terça-feira, 28 de agosto de 2007

Santos e Pecadores

A vida cristã é vivida dentro de uma tensão que os teólogos chamam de “entre o já e o ainda não”. Somos salvos, mas, ainda aguardamos a redenção. Somos santos, porém, pecadores.
Dentro dessa tensão que enfrentamos na vida cristã, uma das questões mais difíceis que o cristão encontra, é que embora tenha recebido uma nova natureza, diariamente ele se depara com a dura realidade do pecado em sua vida. No capítulo 7 de Romanos, o apóstolo Paulo trata dessa grande luta que ele enfrenta contra o pecado. O bem que muitas vezes quer fazer não é exatamente o que ele faz.
Para melhor entendermos essa questão, precisamos entender os três estágios na vida do crente. A justificação, que aconteceu no passado, a santificação que continua no presente e a glorificação que se dará no futuro.
A justificação é um ato único e para todo sempre, é quando Deus atribui a nós os méritos de Jesus Cristo conquistados na cruz do calvário. Significa que a nossa dívida com Deus foi totalmente paga. “Sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus.” Romanos 5.24. “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,” Romanos 5.1.
A justificação, é de graça, é pela fé, é no sangue de Cristo que foi derramado e nos reconcilia com Deus. Significa também, que você não tem que fazer nada. Cristo já fez tudo na cruz. Está consumado. Não há nenhuma participação humana.
Porém, no momento em que você é justificado, inicia uma nova etapa na sua vida a santificação. Em essência, nós somos santos, porque fomos separados por Deus, para si mesmo. Esse é o sentido estrito de algo santo. É o que é separado para Deus, o que é destinado a ser diferente. Por exemplo, quando um objeto era separado para ser usado no templo, era santo, porque era separado das coisas comuns e para o uso exclusivo no serviço de Deus. Ressalte-se que ser santo,não significa ser sem defeito, não ter pecado. Nem tampouco, significa que qualquer instituição humana precisa conceder este título a alguém. Significa que Deus nos separou para si, para sermos um povo de propriedade exclusiva sua e para sermos diferentes.
Ser santo é uma condição. Você é santo porque foi escolhido e separado por Deus como povo de sua exclusiva propriedade. A santificação porém, é um processo contínuo de transformação em nossas vidas. Começa no dia da nossa conversão, isto é no momento em que pela fé fomos graciosamente justificados e vai até o dia em que o Senhor nos chamar.
Se a justificação é um ato só de Cristo. Único, completo e de uma vez por todas, a santificação é uma obra humana e divina. No processo de santificação há um aspecto humano, volitivo, isto é de vontade, de entrega, de submissão à vontade de Deus. Por isso, há inúmeros apelos na Bíblia para que o ser humano se renda aos princípios de Deus, à vontade de Deus. A santificação pois, se dá neste contexto de luta entre a nossa vontade e a vontade de Deus. Essa luta é chamada por Paulo na carta aos Gálatas, de “luta da carne contra o Espírito”. A carne, aqui é a nossa inclinação para o pecado, são os desejos que habitam em nós. Desejos de autonomia, de realizar o que está no nosso coração sem nos importarmos com o que Deus pensa a respeito. O Espírito quer nos conduzir a uma vida que busca as coisas do alto, as coisas santas, os valores do Reino de Deus. É dentro dessa tensão e dessa luta que Paulo grita desesperado: “Miserável homem que sou! Quem me livrará desse corpo sujeito a essa morte?” Romanos 7.24.
Para vencermos essa luta, contamos em primeiro lugar, com a obra realizada por meio de Cristo na cruz do Calvário, que ali, derrotou o pecado e o seu poder. Em segundo lugar contamos com a ajuda do Espírito Santo para nos dirigir em uma vida de santidade. O propósito de Deus é nos moldar à imagem de Jesus Cristo e ainda sabemos pela Palavra de Deus que “estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.” II Coríntios 3.18.
Esse processo de santificação e de transformação, porém, terá o seu fim quando, finalmente, recebermos corpos transformados, corpos gloriosos, nos quais não habita o pecado, quando finalmente, a obra de Cristo em nós estará completa e viveremos na presença dele em santidade, com vestes brancas, com um novo nome, por toda a eternidade. Por isso, diz Paulo, não apenas nós, mas toda a criação geme com dores de parto aguardando a redenção do nosso corpo. Romanos 8.22 e 23.
Hoje sou um pecador. Diariamente luto com a realidade do pecado em minha vida. Gostaria de ser diferente do que sou em muitas coisas, mas não consigo. Às vezes sou egoísta, às vezes sou rancoroso, às vezes digo coisas que não devia. Às vezes, sou irônico, às vezes sou sarcástico. Tenho pensamentos que não deveria. Às vezes, ajo de forma injusta, às vezes de forma precipitada. Faço julgamentos errados, me irrito com facilidade, ajo com agressividade. Mas não desanimo. Sou uma obra inconclusa. Estou em processo de fabricação, de moldagem. Estou sendo plasmado. Eu Sei que aquele que começou a “boa obra” em mim, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus.
Contudo, Hoje, eu também sou um santo. Um santo de Deus. Fui comprado e redimido pelo sangue do Cordeiro, para ser de Deus e para ser diferente. Fui selado com o Espírito Santo da promessa que habita em mim. Sou transformado a cada dia de glória em glória pelo Espírito Santo. Já fui abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo Jesus. Sou herdeiro e co-herdeiro com Cristo, “das coisas que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram e nem jamais penetrou em coração humano”. Sou cidadão e embaixador do Reino de Deus. Como Igreja, faço parte da noiva que está sendo preparada para o Cordeiro, sem mácula, sem ruga e sem defeito algum.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz
Pastor da Igreja

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Email: kleber_nobre@hotmail.com

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A Importância da Família na Formação do Caráter Cristão

Dizer que a família é projeto de Deus, que nasce no coração de Deus, embora seja para muitos um lugar comum, nunca é demais repetir essa verdade.

Mas, gostaria de conversar com vocês sobre a importância da família na formação do caráter cristão. O autor de Provérbios dizia: Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele. Provérbios 22:6.

Como devo eu ensinar os meus filhos a viverem de acordo com os princípios do Evangelho? A primeira coisa a ser feita é de forma contínua e permanentemente ensinar para eles os mandamentos de Deus. “Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos. Escrevei-as nos umbrais de vossa casa e nas vossas portas, para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o SENHOR, sob juramento, prometeu dar a vossos pais, e sejam tão numerosos como os dias do céu acima da terra.” (Deuteronômio 11:19-21 RA) Há aqui, segundo as Escrituras uma promessa de bênção. É preciso de forma insistente reiterar os princípios da Palavra de Deus.

Em segundo lugar, é preciso ser exemplo. A verdade é que nós aprendemos mais com o que vemos do que com o que ouvimos. As crianças aprendem muito por imitação. A maneira como nós agimos, como nós nos relacionamos, como adoramos, como vemos a igreja irão moldar as nossas crianças.

Se a minha atitude com a igreja é sempre de crítica e de murmuração, a igreja não será para eles um lugar que eles desejaram estar quando tiverem a opção de escolher, quando forem livres. Por outro lado, as crianças são observadoras e se as nossas atitudes fora da igreja não correspondem àquilo que nós pregamos ou cantamos, a igreja para elas será apenas um lugar de encenação, de fingimento.

Vale lembrar que se assim o fizermos, isto é, ensinar com as palavras e com o exemplo, teremos a nossa consciência tranqüila diante de Deus de que fomos responsáveis com a preciosa herança que Deus nos deu para administrar; os nossos filhos.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Cabeça Presbiteriana, Coração Pentecostal

Cabeça Presbiteriana, Coração Pentecostal.

Os iluministas e muitos dos seus seguidores, confiando no progresso da ciência, previram que haveria um tempo em que a religião desapareceria. O final do século XX e o início do século XXI, têm colocado a religião no centro das principais questões mundiais e pelos motivos mais tristes, a violência e a intolerância.
Aquilo que acontece de forma mais intensa entre religiões, pode acontecer de forma menos intensa, mas, não menos dramática dentro das religiões, ou trazendo isto para o nosso contexto, dentro das igrejas locais.
Sei que há questões relevantes no que diz respeito à fé das quais não podemos arredar o pé um milímetro para não negarmos a essência da fé. Ironicamente, essas questões essenciais, que foram tema das grandes discussões teológicas ficaram no passado. E muito crentes nem chegaram sequer a conhecê-las com clareza razoável. Nessas questões as fronteiras já estão delimitadas.
É impressionante, como por conta de doutrinas secundárias, abandonamos a essência do cristianismo, o amor. Em nome de Cristo, chegamos a rejeitar irmãos porque em alguns aspectos de sua fé são diferentes de nós. O mais triste é que isso acontece em qualquer vertente do protestantismo. Os históricos olham com desdém para os pentecostais como pessoas ignorantes; os pentecostais olham para os históricos com indiferença por considerá-los frios.
O pior é que para podermos fustigar os outros, costumamos rotulá-los, pois assim fica mais fácil destilar a nossa indignação e às vezes, até o ódio.
Até agora, eu mesmo não consegui me enquadrar em uma categoria específica, tenho uma cabeça presbiteriana, mas um coração pentecostal.
A minha cabeça é presbiteriana porque tenho uma profunda identidade com a teologia reformada, com o seu sistema de governo, com a sua história. Penso que a fé embora não seja racional, se expressa de forma lógica, com argumentos, com estrutura, usando a mente para a glória do nosso Criador. Gosto de livros, de um sermão que procura expor o texto bíblico e que leva a sério o contexto histórico no qual o texto está inserido.
Por outro lado, tenho um coração pentecostal. Sou um grande admirador de como o pentecostalismo trouxe um sopro de renovação ao protestantismo. Admiro o seu entusiasmo evangelístico, a ênfase na oração, o resgate que fez da pessoa do Espírito Santo, sempre a mais esquecida da Trindade Santa. Admiro como para eles o milagre de Deus não é apenas uma palavra inserida no texto bíblico, mas uma possibilidade iminente em suas vidas diárias.
Não consigo ficar em um pólo ou noutro. Gosto de tudo ao mesmo tempo. Gosto dos hinos por conta de sua poesia, teologia e tradição. Gosto dos cânticos modernos, pelos seus ritmos, seus versos e a maneira contemporânea de expressar a fé. Gosto de grupos corais, da maneira bela como harmonizam as vozes. Gosto também dos solistas que conseguem expressar a riqueza de uma música de forma solitária. E ainda gosto de ver a igreja cantando, as mãos levantadas, os olhos fechados, a adoração se expressando com emoção, com gestos, com danças, com coreografias e toda a arte que for usada para a glória de Deus.
É provável que com isso eu seja muito presbiteriano para os pentecostais e muito pentecostal para os presbiterianos, contudo, para mim, não é tudo uma questão de ser branco ou preto ou, misturando os dois chegar a um tom cinza, mas, de viver dentro de uma tensão contínua dentro de realidades diferentes. O cristianismo é policromático, é profusão de cores, de sons, de ritmos, de melodias, de danças e gestos.
Não podemos reduzir a riqueza da revelação e das manifestações de Deus na história e no meio do seu povo a meros conceitos academicistas e escolásticos. O grande exemplo dessa riqueza de abordagens do fenômeno da revelação divina está na biografia de Cristo, os Evangelhos, que embora sem contradições apresentam em pelo menos quatro abordagens diferentes, a mesma história vista de perspectivas diferentes. A questão da fé e das obras em Paulo e Tiago, por exemplo, não são excludentes, nem contraditórios, são apenas o exemplo dessa riqueza da Palavra de Deus que se expressa às vezes em forma de tensão.
Não estou preocupado com rótulos, nem estereótipos, nem tampouco em agradar a homens. Estou preocupado em ser fiel a Deus, em viver em santidade de vida, em ser íntegro diante de Deus. Estou preocupado em amar e respeitar os meus irmãos que em alguns aspectos de sua fé são diferentes de mim.
Para concluir, penso que os pentecostais deveriam admirar o zelo doutrinário e teológico dos históricos e que os históricos deveriam admirar o entusiasmo e a fé viva dos pentecostais. Precisamos aprender uns com os outros naquilo que têm de mais forte em suas vidas com Deus. Vivendo de acordo com o princípio. Unidade nas coisas essenciais; diversidade nas coisas secundárias, acima de tudo, o amor.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz
Pastor da Igreja