segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Cabeça Cheia, Coração Quente.

O ser humano tem a inclinação natural da polarização, da partidarização. Isso se reflete de maneira muito clara na política, nos esportes e mesmo na religião. O que torna a coisa mais complexa é que em todas essas questões a polarização está alicerçada e é alimentada por uma dose muito forte de paixão.
Na igreja e na vida cristã, não é diferente, freqüentemente estamos nos posicionando de um lado ou de outro. Livre Arbítrio x Predestinação; Imersão x Aspersão; Pentecostais x Tradicionais; Conhecimento x Experiência. Nos vemos sempre na obrigação de escolher entre um lado e outro e quando escolhemos um lado, procuramos racionalizar as coisas e buscamos argumentos que possam justificar a nossa posição. Há muitas questões nas quais precisamos fazer um exercício dialético para, assim, chegarmos a uma síntese de posições que nos parecem antagônicas.
Quero me deter aqui, em uma das questões que na maioria das vezes divide os cristãos: o conhecimento e a experiência. Isto, a partir de um conselho dado a um jovem pregador sobre a preparação de sermões e que se aplica à vida cristã. “Estude até ficar com a cabeça cheia; ore até ficar com o coração quente, depois, abra a boca e pregue.”
Há pessoas que valorizam o conhecimento e o buscam de forma incessante. Isso é bom. A Igreja precisa de homens e mulheres que “manejem bem a palavra da verdade”, aqueles a quem a Bíblia chama de mestres. Foi o conhecimento desses homens e mulheres que o Espírito Santo usou para impedir que a igreja ao longo da história perdesse completamente o rumo. Porém um cristão que tenha apenas conhecimento, pode se tornar frio, duro e sem amor. E Deus para estes pode se tornar uma idéia, um dogma, uma doutrina, e o relacionamento se tornar distante. Aqui, a fé pode se tornar prisioneira da razão.
Por outro lado, há aqueles que valorizam a experiência. Estão sempre em busca de novas experiências com Deus e buscam isso com intensidade e paixão. Isso também é bom. Ao longo da história da igreja, houve muitos homens e mulheres que viveram experiências muito ricas com Deus. Foi as experiências desses homens e mulheres que o Espírito Santo usou para que a igreja não se tornasse uma instituição burocrática, robotizada e sem vida. Estes, podem ser chamados de “carismáticos” ou “místicos”. Porém, é bom que se diga que um cristão que busca apenas experiências pode ser dominado pelas experiências em si mesmas e pelo que elas podem oferecer se esquecendo da fonte, o próprio Deus, e da finalidade dessas experiências que é a busca de uma intimidade mais profunda com a Deidade. Neste caso, a fé pode se tornar prisioneira dos sentimentos.
Creio, que o Apóstolo Paulo, nos apresenta uma síntese, um modelo, para a vida cristã em que o conhecimento e a experiência se unem de maneira harmoniosa. Paulo era um homem muito preparado do ponto de vista intelectual e isso foi usado pelo Espírito Santo em sua vida como missionário, escritor e apóstolo. Por outro lado, Paulo era um homem com experiências muito profundas com Deus ao ponto de não poder sequer mencioná-las, face à profundidade do mistério.
O que Paulo nos ensina, portanto, é que não é preciso fazer uma escolha entre conhecimento e experiência. As duas não se excluem, nem são antagônicas na vida do crente, mas são complementares. O lema do cristão deve ser: “cabeça cheia e o coração quente”.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

crentes peter pan

Crentes Peter Pan

Já se falou de muitos tipos de crentes, mas dentre vários há um que é muito danoso às igrejas. Eles precisam ser mimados, admoestados, com isso dando muito trabalho aos pastores e líderes da igreja.

Peter Pan, é um personagem de histórias infantis, ele é um pequeno rapaz que se recusa a crescer e que passa a vida a ter aventuras mágicas. O personagem quer manter-se sempre criança, para assim evitar as responsabilidades da vida adulta. A Síndrome de Peter Pan tornou-se um termo psiquiátrico usado para descrever um adulto que receia os comprometimentos recusando-se a agir conforme a sua idade.

A Bíblia já falava desses tipos de crentes, principalmente o apóstolo Paulo que teve que lidar com eles. Senão vejamos: “E eu não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.” (I Cor. 3.1) “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia e adultos no entendimento.” (I Cor. 14.20) “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.” (Ef. 4.14).

Algumas das características desses meninos são: a) incapazes de compreender as coisas. Paulo diz que não pôde falar a estes como a pessoas espirituais, que têm maturidade, mas como a meninos, incapazes de pensar grande, de compreender as coisas elevadas de Deus, que se detém em mesquinharias, em coisas tolas e fúteis; b) a segunda característica é a inconstância, eles são levados de um canto a outro, não têm firmeza naquilo que fazem. Começam projetos com muito entusiasmo para logo abandoná-los como crianças que se empolgam, mas logo se enjoam daquele brinquedo. São capazes de ir de uma igreja a outra, de um ministério a outro. c) Além disso, uma outra característica é a inconseqüência. No direito brasileiro, o menor é tido como inimputável. Isto é eles não são responsáveis pelos seus atos. A lei tenta proteger aquele que ainda não tem noção clara, nem responsabilidade para assumir os seus próprios atos. Os crentes “Peter Pan” são assim, ao fazerem coisas erradas não procuram assumir os seus erros. Muitas vezes, transferem a responsabilidade para outros, ou negam o que fizeram, como a criança que ao fazer uma travessura tenta esconder de seus pais, o erro que cometeu.

Infelizmente, como Peter Pan, há crentes que não querem crescer e por isso, continuam como crianças e como diz o autor de Hebreus: “Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal. (Hebreus 5.12-14).

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

Inquisição sem fogueiras

Inquisição sem fogueiras.

Os dois períodos mais vergonhosos da história do Cristianismo foram o das Cruzadas e o da inquisição. No primeiro, exércitos foram formados e armados para matar em nome de Cristo. No segundo, pessoas foram julgadas e condenadas à morte em nome de Cristo. A ironia disso tudo é que a inquisição se chamava “santa”.
Precisamos aprender com a história e com os seus erros para não estarmos condenados a repeti-los. Reconheço, que desde o início a igreja se viu atacada por falsos ensinos que motivaram a defesa da fé pelos apóstolos, o que está bem evidenciado nas epístolas.
Contudo, as mesmas epístolas revelam tensões dentro da igreja sem que isso constituísse perigo à essência da fé. O Concílio de Jerusalém conforme está relatado em Atos capítulo 15, é um exemplo muito claro disso. A igreja nasce dentro do judaísmo, mas como já previra Jesus Cristo: “é preciso odres novos para o vinho novo,” e a estrutura do judaísmo não suporta o novo que irrompera na pessoa de Jesus Cristo. Razão pela qual, para que as tensões fossem atenuadas uma agenda mínima é estabelecida para cumprimento pelos gentios, a fim de que houvesse paz na igreja (Atos 15.20).
Precisamos humildemente, reconhecer que há muitos assuntos dentro da fé cristã que são controversos; que outros irmãos que são crentes fiéis à luz da Bíblia, encontram respaldo para suas doutrinas e idéias. Precisamos distinguir o que é primordial, o que é essencial à fé cristã e inegociável, daquilo que é secundário, de questões sobre as quais existem posições divergentes e amplamente aceitas no meio dos cristãos para não querermos queimar os outros no fogo do nosso preconceito e das nossas palavras em uma “inquisição sem fogueiras”.
Lembramos que a “verdade sem amor gera a intolerância, mas, o amor sem a verdade gera a insegurança”. Esses dois elementos precisam andar juntos e combinados na igreja: a verdade e o amor.
Rev. Kleber Nobre de Queiroz

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Pague a sua Dívida.

“Pois sou devedor tanto a gregos quanto a bárbaros, tanto a sábios quanto a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma. Romanos 1.14 e 15.

O que você costuma fazer com as suas dívidas. Você costuma pagá-las? E se você descobrisse hoje que tem uma grande dívida o que faria? Você a pagaria imediatamente ou você a adiaria sem data para cumprimento?
Essa era a condição de Paulo e essa é a nossa condição. Somos devedores aos outros no que diz respeito ao anúncio das boas novas.
Evangelizar é uma questão de amor. Amor a Deus e amor ao próximo. O amor a Deus nos leva a cumprir a sua ordem de anunciar o evangelho a toda a criatura, em todo lugar, durante todo tempo.
O amor ao próximo nos leva a anunciar as boas novas do evangelho, de anunciar que existe salvação para o homem pecador, que a sua vida pode ser diferente daquilo que ela é.
Somos devedores aos outros porque o amor, diz Paulo, no seu memorável texto de 1 Coríntios 13, não busca o seu próprio interesse. O amor não pode ser egoísta. Se o Evangelho mudou a sua vida, você não pode retê-lo só para você, você deve compartilhar com os outros a grande mensagem do amor de Deus.
No mundo em que vivemos, há pessoas aflitas e desesperadas. Pessoas para quem a vida já não tem nenhum sentido, pessoas que querem dar cabo da sua vida porque já não têm esperança. Há pessoas que querem descobrir o sentido do amor, querem saber que alguém os ama do jeito que são, da maneira como estão, que os ama incondicionalmente, que os ama com amor eterno e que provou esse amor, dando o seu próprio Filho como prova desse amor.
Há também pessoas que estão cegas porque o deus deste mundo lhe cegou o entendimento. Elas estão nas trevas e não sabem. Há pessoas que são escravas de grilhões espirituais que subjugam todo o seu ser.
O homem precisa descobrir o amor de Deus. Porque ele vive esmagado pelo peso de deuses e de ídolos vingativos, que exigem sacrifícios incessantes, penitências. Cuja relação com eles é baseada na troca, na entrega de oferendas, no “é dando que se recebe”.
As pessoas precisam descobrir um Deus que é amor, que é pura graça, que é compassivo, misericordioso. As pessoas precisam descobrir o Deus revelado na face do nosso Senhor Jesus Cristo. Evangelizar, é falar desse Deus de amor.
Somos devedores a todos os homens que ainda não conhecem esse Deus.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Palavras de ordem, palavras vazias

Palavras de Ordem, Palavras Vazias.

Existem duas visões evangélicas da realidade e da história que são comodistas e em alguns aspectos, ingênuas. Uma é otimista demais e a outra pessimista demais.
Explico-me. Tenho ouvido insistentemente a afirmação de que o “Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso! " A ingenuidade está em pensar que o simples fato de desferir palavras de ordem ao vento, mudará uma realidade complexa. Gostaria muito que a realidade fosse mudada a golpes de palavras de ordem. Mas, para minha decepção não é isso que acontece. Eu ficaria muito triste se realmente o Brasil fosse de Jesus, vendo crescer a corrupção, a falta de vergonha da maioria dos políticos, o crescimento vertiginoso do número de participantes da parada do “orgulho” gay, a iniciação sexual cada dia mais cedo dos jovens, o aumento do consumo de drogas, a glamourização da ingestão de bebidas alcoólicas, a violência incontrolável, o abuso sexual de crianças, a exploração do trabalho infantil, a violência contra as mulheres, o abandono dos idosos, o caos no trânsito e ainda sermos ao mesmo tempo o maior país católico, espírita e evangélico do mundo. Sim, somos tudo isso ao mesmo tempo e ainda, segundo o IBGE, cresce de forma significativa o número de ateus em nosso país. Ao longo desses anos, todas as palavras de ordem pronunciadas não foram capazes de mudar essa realidade.
Por outro lado, ainda sobrevive, em alguns dos cristãos que ainda esperam a vinda do Senhor Jesus Cristo, aquele princípio de “quanto pior melhor”. É verdade que a Bíblia aponta para uma serie de sinais que são indicativos da vinda de Cristo e que em sua essência são catastróficos. Porém não devemos confundir a alegria com a expectativa da vinda do Senhor Jesus Cristo, da noiva que ansiosamente aguarda o seu noivo, com os sinais que antecedem essa vinda, caracterizados por vários acontecimentos dramáticos e ruinosos. Somos chamados a uma atitude misericordiosa, de compaixão e de amor. A nós, cabe alimentar e dessedentar o inimigo, como vemos na carta aos Romanos no capítulo 12. O juízo cabe a Deus. Muitas vezes, os cristãos usam essa visão para se acomodar frente aos desafios que têm no mundo, pois se Jesus disse que as coisas seriam assim, dramáticas e difícieis, temos que nos conformar. Mas, a Igreja enquanto estiver aqui, tem um papel profético e sacerdotal no mundo. Profético para confrontar este mundo mau com os valores do Reino de Deus "que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo" Romanos 14.17. E sacerdotal no papel de intercessora, de se apresentar diante de Deus intercedendo pelos perdidos.
A atitude cristã nem pode ser otimista, nem pessimista, tem que ser realista e proativa.
O cristão tem em primeiro lugar a obrigação de orar. Há uma determinação clara na 1ª Carta de Paulo a Timóteo no capítulo 2: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens”. A oração é a arma mais poderosa do Cristão para mudar a realidade. A Igreja tem desprezado a oração como instrumento de transformação da realidade. A oração tem que ser sempre o primeiro recurso.
Em segundo lugar é preciso uma atitude de inconformação, de insatisfação, como o apóstolo Paulo nos diz na Carta aos Romanos, capítulo 12: “não vos conformeis com este século”.
Em terceiro lugar, é preciso uma atitude de contestação. Os cristãos têm que se unir e se manifestar contra todas as coisas contrárias ao Reino de Deus. Precisamos erguer a nossa voz contra a injustiça, a corrupção, a imoralidade e a violência que estão entranhadas nas estruturas pecaminosas da nossa sociedade. Existe o pecado individual, que está presente na vida de cada pessoa. Mas, existe um pecado estrutural. O inimigo, de maneira astuta está agindo por meio das estruturas da sociedade, usando os legisladores, os governantes, os meios de comunicação, para atingir seus objetivos.
Por isso, precisamos nos mobilizar contra leis que exploram os trabalhadores, que defendem o aborto, que querem silenciar a voz da igreja quando esta diz que o homossexualismo é uma corrupção da criação de Deus que fez homens e mulheres.
Devemos nos mobilizar contra os meios de comunicação que estão destruindo os valores familiares, que estão fazendo com que o é certo pareça errado e o que é errado pareça certo.
Temos exemplos de cristãos que exerceram influência e produziram mudanças em seu tempo. Martin Luther King, na luta pelos direitos civis, que sem armas e sem violência, quebrou a força de um sistema iníquo, sistema que, era apoiado inclusive por igrejas. Podemos mencionar ainda, Desmond Tutu na África do Sul, William Wiberforce, na Inglaterra e Eduardo Carlos Pereira, fundador da nossa igreja que foi um abolicionista e se posicionou contra a infâmia da escravidão no Brasil.
A igreja não pode deixar de orar, de demonstrar o seu inconformismo. Ela tem que erguer a sua voz.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Homem é Livre?

O Homem é Livre?


Existe liberdade? O homem pode ser completamente livre? Isto é pode fazer tudo o que quiser? Ou existe alguma coisa que impede o homem de ser plenamente livre. O que é realmente liberdade?

A liberdade é um bem muito precioso ao ser humano. Na legislação de qualquer país do mundo usa-se a privação da liberdade de ir e vir como um instrumento de punição para os crimes tidos como mais graves. Isso já é um indicativo de que em qualquer lugar do mundo, a liberdade é tida como um bem muito precioso.

E o que a Bíblia nos diz a respeito de liberdade? Segundo a Bíblia o homem pode ser completamente livre?

Segundo a Bíblia, de maneira geral existem dois tipos de pessoas. As que são livres e as que são escravas. Ela descreve a condição das pessoas que têm Cristo como livres e das que não tem como escravas.

O homem sem Cristo é em primeiro lugar escravo do pecado. Por causa da queda ele foi subjugado, isto é colocado debaixo de um jugo, de um domínio, de tal maneira que quando ele age pensando que é livre, na verdade, ele está sendo dominado pelos desejos que a sua natureza pecaminosa o leva a cometer.

Ele é em segundo lugar, escravo do mundo. A Bíblia descreve este mundo como um sistema corrupto e pecaminoso que com sua estrutura aprisiona o homem, que inconscientemente ou conscientemente se submete ao seu padrão de conduta e por via de conseqüência é escravo do príncipe deste mundo, o Diabo. Paulo escreve isto com muita propriedade na Carta aos Efésios no capítulo 2, nos versos de 1 a 3.

A Bíblia descreve a condição do homem com Cristo como livre. Ele é livre da condenação do pecado porque Cristo se fez pecado na cruz por nós. Ele levou ali a nossa culpa. O homem em Cristo é livre também da influência, da força do pecado. No momento em que Cristo entra em sua vida ele nasce de novo, recebe uma nova natureza cuja inclinação é para as coisas santas e puras. Por isso, Paulo quando escreve aos Coríntios diz que se alguém está em Cristo é nova criatura, tudo se faz novo. Além disso, o Espírito Santo e santificador passa a habitar dentro dele. O homem em Cristo também é livre deste mundo. Embora ainda viva neste mundo, ele é cidadão de outro Reino. É transportado do reino das trevas para o Reino do Filho Amado de Deus.

Porém, em essência, nenhum ser humano é livre. O homem sem Cristo é escravo por condição. O homem com Cristo é escravo por opção. Como vimos acima, a condição do homem sem Cristo, por mais que ele tenha a ilusão de liberdade é de escravidão. Mas, o homem em Cristo, sendo livre, por amor, se faz escravo de Cristo. Isto é submete inteiramente sua vontade à vontade de Cristo. Esse é um dos grandes paradoxos do cristianismo. A verdadeira liberdade está em render completamente a vontade própria à vontade de Cristo. O homem é livre quando já não tem vontade, porque por amor e gratidão, tornou-se servo de Cristo.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Santos e Pecadores

A vida cristã é vivida dentro de uma tensão que os teólogos chamam de “entre o já e o ainda não”. Somos salvos, mas, ainda aguardamos a redenção. Somos santos, porém, pecadores.
Dentro dessa tensão que enfrentamos na vida cristã, uma das questões mais difíceis que o cristão encontra, é que embora tenha recebido uma nova natureza, diariamente ele se depara com a dura realidade do pecado em sua vida. No capítulo 7 de Romanos, o apóstolo Paulo trata dessa grande luta que ele enfrenta contra o pecado. O bem que muitas vezes quer fazer não é exatamente o que ele faz.
Para melhor entendermos essa questão, precisamos entender os três estágios na vida do crente. A justificação, que aconteceu no passado, a santificação que continua no presente e a glorificação que se dará no futuro.
A justificação é um ato único e para todo sempre, é quando Deus atribui a nós os méritos de Jesus Cristo conquistados na cruz do calvário. Significa que a nossa dívida com Deus foi totalmente paga. “Sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus.” Romanos 5.24. “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,” Romanos 5.1.
A justificação, é de graça, é pela fé, é no sangue de Cristo que foi derramado e nos reconcilia com Deus. Significa também, que você não tem que fazer nada. Cristo já fez tudo na cruz. Está consumado. Não há nenhuma participação humana.
Porém, no momento em que você é justificado, inicia uma nova etapa na sua vida a santificação. Em essência, nós somos santos, porque fomos separados por Deus, para si mesmo. Esse é o sentido estrito de algo santo. É o que é separado para Deus, o que é destinado a ser diferente. Por exemplo, quando um objeto era separado para ser usado no templo, era santo, porque era separado das coisas comuns e para o uso exclusivo no serviço de Deus. Ressalte-se que ser santo,não significa ser sem defeito, não ter pecado. Nem tampouco, significa que qualquer instituição humana precisa conceder este título a alguém. Significa que Deus nos separou para si, para sermos um povo de propriedade exclusiva sua e para sermos diferentes.
Ser santo é uma condição. Você é santo porque foi escolhido e separado por Deus como povo de sua exclusiva propriedade. A santificação porém, é um processo contínuo de transformação em nossas vidas. Começa no dia da nossa conversão, isto é no momento em que pela fé fomos graciosamente justificados e vai até o dia em que o Senhor nos chamar.
Se a justificação é um ato só de Cristo. Único, completo e de uma vez por todas, a santificação é uma obra humana e divina. No processo de santificação há um aspecto humano, volitivo, isto é de vontade, de entrega, de submissão à vontade de Deus. Por isso, há inúmeros apelos na Bíblia para que o ser humano se renda aos princípios de Deus, à vontade de Deus. A santificação pois, se dá neste contexto de luta entre a nossa vontade e a vontade de Deus. Essa luta é chamada por Paulo na carta aos Gálatas, de “luta da carne contra o Espírito”. A carne, aqui é a nossa inclinação para o pecado, são os desejos que habitam em nós. Desejos de autonomia, de realizar o que está no nosso coração sem nos importarmos com o que Deus pensa a respeito. O Espírito quer nos conduzir a uma vida que busca as coisas do alto, as coisas santas, os valores do Reino de Deus. É dentro dessa tensão e dessa luta que Paulo grita desesperado: “Miserável homem que sou! Quem me livrará desse corpo sujeito a essa morte?” Romanos 7.24.
Para vencermos essa luta, contamos em primeiro lugar, com a obra realizada por meio de Cristo na cruz do Calvário, que ali, derrotou o pecado e o seu poder. Em segundo lugar contamos com a ajuda do Espírito Santo para nos dirigir em uma vida de santidade. O propósito de Deus é nos moldar à imagem de Jesus Cristo e ainda sabemos pela Palavra de Deus que “estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.” II Coríntios 3.18.
Esse processo de santificação e de transformação, porém, terá o seu fim quando, finalmente, recebermos corpos transformados, corpos gloriosos, nos quais não habita o pecado, quando finalmente, a obra de Cristo em nós estará completa e viveremos na presença dele em santidade, com vestes brancas, com um novo nome, por toda a eternidade. Por isso, diz Paulo, não apenas nós, mas toda a criação geme com dores de parto aguardando a redenção do nosso corpo. Romanos 8.22 e 23.
Hoje sou um pecador. Diariamente luto com a realidade do pecado em minha vida. Gostaria de ser diferente do que sou em muitas coisas, mas não consigo. Às vezes sou egoísta, às vezes sou rancoroso, às vezes digo coisas que não devia. Às vezes, sou irônico, às vezes sou sarcástico. Tenho pensamentos que não deveria. Às vezes, ajo de forma injusta, às vezes de forma precipitada. Faço julgamentos errados, me irrito com facilidade, ajo com agressividade. Mas não desanimo. Sou uma obra inconclusa. Estou em processo de fabricação, de moldagem. Estou sendo plasmado. Eu Sei que aquele que começou a “boa obra” em mim, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus.
Contudo, Hoje, eu também sou um santo. Um santo de Deus. Fui comprado e redimido pelo sangue do Cordeiro, para ser de Deus e para ser diferente. Fui selado com o Espírito Santo da promessa que habita em mim. Sou transformado a cada dia de glória em glória pelo Espírito Santo. Já fui abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo Jesus. Sou herdeiro e co-herdeiro com Cristo, “das coisas que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram e nem jamais penetrou em coração humano”. Sou cidadão e embaixador do Reino de Deus. Como Igreja, faço parte da noiva que está sendo preparada para o Cordeiro, sem mácula, sem ruga e sem defeito algum.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz
Pastor da Igreja

Acesse: http://www.boletim1ipin.blogspot.com/
Email: kleber_nobre@hotmail.com

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A Importância da Família na Formação do Caráter Cristão

Dizer que a família é projeto de Deus, que nasce no coração de Deus, embora seja para muitos um lugar comum, nunca é demais repetir essa verdade.

Mas, gostaria de conversar com vocês sobre a importância da família na formação do caráter cristão. O autor de Provérbios dizia: Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele. Provérbios 22:6.

Como devo eu ensinar os meus filhos a viverem de acordo com os princípios do Evangelho? A primeira coisa a ser feita é de forma contínua e permanentemente ensinar para eles os mandamentos de Deus. “Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos. Escrevei-as nos umbrais de vossa casa e nas vossas portas, para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o SENHOR, sob juramento, prometeu dar a vossos pais, e sejam tão numerosos como os dias do céu acima da terra.” (Deuteronômio 11:19-21 RA) Há aqui, segundo as Escrituras uma promessa de bênção. É preciso de forma insistente reiterar os princípios da Palavra de Deus.

Em segundo lugar, é preciso ser exemplo. A verdade é que nós aprendemos mais com o que vemos do que com o que ouvimos. As crianças aprendem muito por imitação. A maneira como nós agimos, como nós nos relacionamos, como adoramos, como vemos a igreja irão moldar as nossas crianças.

Se a minha atitude com a igreja é sempre de crítica e de murmuração, a igreja não será para eles um lugar que eles desejaram estar quando tiverem a opção de escolher, quando forem livres. Por outro lado, as crianças são observadoras e se as nossas atitudes fora da igreja não correspondem àquilo que nós pregamos ou cantamos, a igreja para elas será apenas um lugar de encenação, de fingimento.

Vale lembrar que se assim o fizermos, isto é, ensinar com as palavras e com o exemplo, teremos a nossa consciência tranqüila diante de Deus de que fomos responsáveis com a preciosa herança que Deus nos deu para administrar; os nossos filhos.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Cabeça Presbiteriana, Coração Pentecostal

Cabeça Presbiteriana, Coração Pentecostal.

Os iluministas e muitos dos seus seguidores, confiando no progresso da ciência, previram que haveria um tempo em que a religião desapareceria. O final do século XX e o início do século XXI, têm colocado a religião no centro das principais questões mundiais e pelos motivos mais tristes, a violência e a intolerância.
Aquilo que acontece de forma mais intensa entre religiões, pode acontecer de forma menos intensa, mas, não menos dramática dentro das religiões, ou trazendo isto para o nosso contexto, dentro das igrejas locais.
Sei que há questões relevantes no que diz respeito à fé das quais não podemos arredar o pé um milímetro para não negarmos a essência da fé. Ironicamente, essas questões essenciais, que foram tema das grandes discussões teológicas ficaram no passado. E muito crentes nem chegaram sequer a conhecê-las com clareza razoável. Nessas questões as fronteiras já estão delimitadas.
É impressionante, como por conta de doutrinas secundárias, abandonamos a essência do cristianismo, o amor. Em nome de Cristo, chegamos a rejeitar irmãos porque em alguns aspectos de sua fé são diferentes de nós. O mais triste é que isso acontece em qualquer vertente do protestantismo. Os históricos olham com desdém para os pentecostais como pessoas ignorantes; os pentecostais olham para os históricos com indiferença por considerá-los frios.
O pior é que para podermos fustigar os outros, costumamos rotulá-los, pois assim fica mais fácil destilar a nossa indignação e às vezes, até o ódio.
Até agora, eu mesmo não consegui me enquadrar em uma categoria específica, tenho uma cabeça presbiteriana, mas um coração pentecostal.
A minha cabeça é presbiteriana porque tenho uma profunda identidade com a teologia reformada, com o seu sistema de governo, com a sua história. Penso que a fé embora não seja racional, se expressa de forma lógica, com argumentos, com estrutura, usando a mente para a glória do nosso Criador. Gosto de livros, de um sermão que procura expor o texto bíblico e que leva a sério o contexto histórico no qual o texto está inserido.
Por outro lado, tenho um coração pentecostal. Sou um grande admirador de como o pentecostalismo trouxe um sopro de renovação ao protestantismo. Admiro o seu entusiasmo evangelístico, a ênfase na oração, o resgate que fez da pessoa do Espírito Santo, sempre a mais esquecida da Trindade Santa. Admiro como para eles o milagre de Deus não é apenas uma palavra inserida no texto bíblico, mas uma possibilidade iminente em suas vidas diárias.
Não consigo ficar em um pólo ou noutro. Gosto de tudo ao mesmo tempo. Gosto dos hinos por conta de sua poesia, teologia e tradição. Gosto dos cânticos modernos, pelos seus ritmos, seus versos e a maneira contemporânea de expressar a fé. Gosto de grupos corais, da maneira bela como harmonizam as vozes. Gosto também dos solistas que conseguem expressar a riqueza de uma música de forma solitária. E ainda gosto de ver a igreja cantando, as mãos levantadas, os olhos fechados, a adoração se expressando com emoção, com gestos, com danças, com coreografias e toda a arte que for usada para a glória de Deus.
É provável que com isso eu seja muito presbiteriano para os pentecostais e muito pentecostal para os presbiterianos, contudo, para mim, não é tudo uma questão de ser branco ou preto ou, misturando os dois chegar a um tom cinza, mas, de viver dentro de uma tensão contínua dentro de realidades diferentes. O cristianismo é policromático, é profusão de cores, de sons, de ritmos, de melodias, de danças e gestos.
Não podemos reduzir a riqueza da revelação e das manifestações de Deus na história e no meio do seu povo a meros conceitos academicistas e escolásticos. O grande exemplo dessa riqueza de abordagens do fenômeno da revelação divina está na biografia de Cristo, os Evangelhos, que embora sem contradições apresentam em pelo menos quatro abordagens diferentes, a mesma história vista de perspectivas diferentes. A questão da fé e das obras em Paulo e Tiago, por exemplo, não são excludentes, nem contraditórios, são apenas o exemplo dessa riqueza da Palavra de Deus que se expressa às vezes em forma de tensão.
Não estou preocupado com rótulos, nem estereótipos, nem tampouco em agradar a homens. Estou preocupado em ser fiel a Deus, em viver em santidade de vida, em ser íntegro diante de Deus. Estou preocupado em amar e respeitar os meus irmãos que em alguns aspectos de sua fé são diferentes de mim.
Para concluir, penso que os pentecostais deveriam admirar o zelo doutrinário e teológico dos históricos e que os históricos deveriam admirar o entusiasmo e a fé viva dos pentecostais. Precisamos aprender uns com os outros naquilo que têm de mais forte em suas vidas com Deus. Vivendo de acordo com o princípio. Unidade nas coisas essenciais; diversidade nas coisas secundárias, acima de tudo, o amor.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz
Pastor da Igreja