sexta-feira, 25 de abril de 2008

Zelo Sem Conhecimento

Posso testemunhar que eles têm zelo por Deus, mas o seu zelo não se baseia no conhecimento. Romanos 10.2 (NVI)

Quando estudamos a Reforma Protestante podemos perceber que como toda atividade humana, ela teve aspecto políticos. Porém, um fato inegável sobre a Reforma é que esta foi um avivamento espiritual, mas, que em sua essência foi profundamente marcada pela questão doutrinária.

Sabemos que a Reforma Protestante começa em 1517, com afixação das 95 teses por Martinho Lutero, um monge alemão, na porta do Castelo de Wittenberg. Essas teses eram um protesto de Lutero contra a venda de indulgências porque estas atentavam contra o conceito de “graça” revelado nas Escrituras Sagradas e as indulgências de maneira simplificada, era perdão dos pecados mediante pagamento em dinheiro.

O tema da graça dominava o pensamento de Lutero que por muito tempo lutara com a imagem de um Deus vingativo ao qual ele servia por medo e não por amor. É no estudo da Carta aos Romanos que ele se depara com o tema da “justificação pela fé” e isso de maneira graciosa, em que a fé é um meio e não um tipo de obra que dá méritos ao homem.

O que essa pequena introdução nos revela é o papel fundamental que o conhecimento tem na vida e na fé cristã.

Em primeiro lugar, conhecimento das Escrituras Sagradas. Não se pode conhecer a Deus de forma suficiente sem o conhecimento da Bíblia. É na Bíblia que está revelado o caráter de Deus, é na Bíblia que conhecemos o plano salvífico de Deus, é na Bíblia que tomamos conhecimento que Deus enviou o seu Filho para nossa salvação e é na Bíblia também, que tomamos conhecimento do que Deus tem preparado para o seu povo na eternidade.

Uma das grandes conquistas do período da Reforma foi o acesso que o povo teve das Escrituras uma vez que houve um grande esforço de colocá-la na língua e do povo e não apenas no latim como acontecia normalmente. Porém, a Bíblia tem que ser lida e interpretada. A falta de critérios na interpretação da Bíblia é que dá origem a seitas e heresias desde o início da história da igreja. Não nos esqueçamos que os Mórmons, Testemunhas de Jeová e até os Espíritas usam a Bíblia na tentativa de justificarem os seus erros.

Há princípios que norteiam essa interpretação. As ferramentas usadas para o entendimento do texto são a exegese e a hermenêutica, principalmente. A primeira ferramenta procura descobrir o significado do texto na sua situação original, isso levando em conta, à época, o local, as circunstâncias, a língua; a segunda, a sua aplicação nos dias atuais. Obviamente, que nenhuma dessas ferramentas em si são suficientes se não contarmos com o auxílio do Espírito Santo.

Além de conhecermos as Escrituras, precisamos conhecer a história da igreja, sua tradição teológica. A fé que nós temos hoje, é fruto de muitas lutas e orações, uma vez que a Igreja sempre se viu atacada por falsos ensinos e isso desde o tempo dos Apóstolos o que fez com a Igreja procurasse expor os fundamentos de sua fé de forma articulada e racional.

A Igreja nos nossos dias é herdeira de uma tradição que vem desde os apóstolos; passando pelos apologetas, ou seja, os defensores da fé; os chamados “pais da Igreja”; além dos reformadores, até chegar aos nossos dias. Com isso, precisamos entender que a igreja não nasce em um vazio histórico e teológico e conhecer a história da Igreja, nos impede de cometer erros e defender falsos ensinos doutrinários que com muito sofrimento a Igreja já condenou.

Precisamos ser zelosos com a Igreja e esse zelo requer da nossa parte conhecimento e o conhecimento vem por meio do Estudo. A Escola Dominical é o nosso principal meio de aprendizado, ser negligente com ela, significa ser negligente com a própria fé. Como muito bem afirmou John Stott em seu pequeno livro: “Crer é também pensar”!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Fé sem obras

Tiago 2:26 Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.

Nós que fazemos parte das igrejas históricas que têm suas origens ainda na Reforma Protestante do Século XVI, somos imensamente devedores àqueles homens que nos deixaram esse tesouro precioso que é a tradição na qual se baseia a nossa teologia e doutrinas.

Dizer, porém, que somos herdeiros da Reforma, não significa dizer que temos que aceitar de maneira acrítica tudo que Lutero, Calvino e os outros reformadores ensinaram. Fazer isso é colocar os seus ensinos no nível da infalibilidade e isso seria um dogma que não nos pertence. Fôssemos absorver tudo que, por exemplo, Calvino defendia, não teríamos ainda hoje, corais em nossas igrejas, e estaríamos ainda cantando quase que basicamente os salmos.

Toda essa digressão é para tratar do texto de Tiago que está na Epístola de Tiago e que, por causa do momento que Lutero estava vivendo, ele a chamou de Epístola de palha.

No versículo acima, Tiago não está negando a “Justificação pela fé”, porque isso colocaria as Escrituras em contradição e Paulo e Tiago estariam dizendo coisas diferentes. O que ele está dizendo é que a fé verdadeira não é abstrata, não é uma idéia, um conceito, mas é vida. Vida que se traduz através de atos de misericórdia e de amor. O Apóstolo João, na sua primeira Epístola no capítulo 3, versículo 17 diz o seguinte “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” Ou seja, quem tem o amor de Deus no coração, não é insensível às necessidades do seu irmão. O próprio Paulo, na sua primeira carta aos tessalonicenses elogia a operosidade da fé dos irmãos de Tessalônica, ou, em outras palavras, o trabalho que resulta da fé.

Calvino falava que a marca dos eleitos é a santidade. Ou seja, a prova de que somos salvos é a maneira como vivemos. A bondade é um fruto do Espírito Santo, isto é, ser bom, é um sinal de que o Espírito Santo habita dentro de nós. E bondade e amor só existem quando há alguém que é objeto de nossa bondade e amor.

Contudo, a maior prova de que a afirmação de Tiago não está em confronto com o que Paulo diz, está na sua colocação em I Coríntios 13: 2 e 3: ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.”

A conclusão de Paulo nestes dois versículos é simples e direta: a fé sem obras é morta; as obras sem a fé são inúteis. Assim, as duas precisam estar unidas na vida de um cristão.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

Pastor da Igreja