segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Cabeça Cheia, Coração Quente.

O ser humano tem a inclinação natural da polarização, da partidarização. Isso se reflete de maneira muito clara na política, nos esportes e mesmo na religião. O que torna a coisa mais complexa é que em todas essas questões a polarização está alicerçada e é alimentada por uma dose muito forte de paixão.
Na igreja e na vida cristã, não é diferente, freqüentemente estamos nos posicionando de um lado ou de outro. Livre Arbítrio x Predestinação; Imersão x Aspersão; Pentecostais x Tradicionais; Conhecimento x Experiência. Nos vemos sempre na obrigação de escolher entre um lado e outro e quando escolhemos um lado, procuramos racionalizar as coisas e buscamos argumentos que possam justificar a nossa posição. Há muitas questões nas quais precisamos fazer um exercício dialético para, assim, chegarmos a uma síntese de posições que nos parecem antagônicas.
Quero me deter aqui, em uma das questões que na maioria das vezes divide os cristãos: o conhecimento e a experiência. Isto, a partir de um conselho dado a um jovem pregador sobre a preparação de sermões e que se aplica à vida cristã. “Estude até ficar com a cabeça cheia; ore até ficar com o coração quente, depois, abra a boca e pregue.”
Há pessoas que valorizam o conhecimento e o buscam de forma incessante. Isso é bom. A Igreja precisa de homens e mulheres que “manejem bem a palavra da verdade”, aqueles a quem a Bíblia chama de mestres. Foi o conhecimento desses homens e mulheres que o Espírito Santo usou para impedir que a igreja ao longo da história perdesse completamente o rumo. Porém um cristão que tenha apenas conhecimento, pode se tornar frio, duro e sem amor. E Deus para estes pode se tornar uma idéia, um dogma, uma doutrina, e o relacionamento se tornar distante. Aqui, a fé pode se tornar prisioneira da razão.
Por outro lado, há aqueles que valorizam a experiência. Estão sempre em busca de novas experiências com Deus e buscam isso com intensidade e paixão. Isso também é bom. Ao longo da história da igreja, houve muitos homens e mulheres que viveram experiências muito ricas com Deus. Foi as experiências desses homens e mulheres que o Espírito Santo usou para que a igreja não se tornasse uma instituição burocrática, robotizada e sem vida. Estes, podem ser chamados de “carismáticos” ou “místicos”. Porém, é bom que se diga que um cristão que busca apenas experiências pode ser dominado pelas experiências em si mesmas e pelo que elas podem oferecer se esquecendo da fonte, o próprio Deus, e da finalidade dessas experiências que é a busca de uma intimidade mais profunda com a Deidade. Neste caso, a fé pode se tornar prisioneira dos sentimentos.
Creio, que o Apóstolo Paulo, nos apresenta uma síntese, um modelo, para a vida cristã em que o conhecimento e a experiência se unem de maneira harmoniosa. Paulo era um homem muito preparado do ponto de vista intelectual e isso foi usado pelo Espírito Santo em sua vida como missionário, escritor e apóstolo. Por outro lado, Paulo era um homem com experiências muito profundas com Deus ao ponto de não poder sequer mencioná-las, face à profundidade do mistério.
O que Paulo nos ensina, portanto, é que não é preciso fazer uma escolha entre conhecimento e experiência. As duas não se excluem, nem são antagônicas na vida do crente, mas são complementares. O lema do cristão deve ser: “cabeça cheia e o coração quente”.

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

crentes peter pan

Crentes Peter Pan

Já se falou de muitos tipos de crentes, mas dentre vários há um que é muito danoso às igrejas. Eles precisam ser mimados, admoestados, com isso dando muito trabalho aos pastores e líderes da igreja.

Peter Pan, é um personagem de histórias infantis, ele é um pequeno rapaz que se recusa a crescer e que passa a vida a ter aventuras mágicas. O personagem quer manter-se sempre criança, para assim evitar as responsabilidades da vida adulta. A Síndrome de Peter Pan tornou-se um termo psiquiátrico usado para descrever um adulto que receia os comprometimentos recusando-se a agir conforme a sua idade.

A Bíblia já falava desses tipos de crentes, principalmente o apóstolo Paulo que teve que lidar com eles. Senão vejamos: “E eu não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.” (I Cor. 3.1) “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia e adultos no entendimento.” (I Cor. 14.20) “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.” (Ef. 4.14).

Algumas das características desses meninos são: a) incapazes de compreender as coisas. Paulo diz que não pôde falar a estes como a pessoas espirituais, que têm maturidade, mas como a meninos, incapazes de pensar grande, de compreender as coisas elevadas de Deus, que se detém em mesquinharias, em coisas tolas e fúteis; b) a segunda característica é a inconstância, eles são levados de um canto a outro, não têm firmeza naquilo que fazem. Começam projetos com muito entusiasmo para logo abandoná-los como crianças que se empolgam, mas logo se enjoam daquele brinquedo. São capazes de ir de uma igreja a outra, de um ministério a outro. c) Além disso, uma outra característica é a inconseqüência. No direito brasileiro, o menor é tido como inimputável. Isto é eles não são responsáveis pelos seus atos. A lei tenta proteger aquele que ainda não tem noção clara, nem responsabilidade para assumir os seus próprios atos. Os crentes “Peter Pan” são assim, ao fazerem coisas erradas não procuram assumir os seus erros. Muitas vezes, transferem a responsabilidade para outros, ou negam o que fizeram, como a criança que ao fazer uma travessura tenta esconder de seus pais, o erro que cometeu.

Infelizmente, como Peter Pan, há crentes que não querem crescer e por isso, continuam como crianças e como diz o autor de Hebreus: “Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal. (Hebreus 5.12-14).

Rev. Kleber Nobre de Queiroz

Inquisição sem fogueiras

Inquisição sem fogueiras.

Os dois períodos mais vergonhosos da história do Cristianismo foram o das Cruzadas e o da inquisição. No primeiro, exércitos foram formados e armados para matar em nome de Cristo. No segundo, pessoas foram julgadas e condenadas à morte em nome de Cristo. A ironia disso tudo é que a inquisição se chamava “santa”.
Precisamos aprender com a história e com os seus erros para não estarmos condenados a repeti-los. Reconheço, que desde o início a igreja se viu atacada por falsos ensinos que motivaram a defesa da fé pelos apóstolos, o que está bem evidenciado nas epístolas.
Contudo, as mesmas epístolas revelam tensões dentro da igreja sem que isso constituísse perigo à essência da fé. O Concílio de Jerusalém conforme está relatado em Atos capítulo 15, é um exemplo muito claro disso. A igreja nasce dentro do judaísmo, mas como já previra Jesus Cristo: “é preciso odres novos para o vinho novo,” e a estrutura do judaísmo não suporta o novo que irrompera na pessoa de Jesus Cristo. Razão pela qual, para que as tensões fossem atenuadas uma agenda mínima é estabelecida para cumprimento pelos gentios, a fim de que houvesse paz na igreja (Atos 15.20).
Precisamos humildemente, reconhecer que há muitos assuntos dentro da fé cristã que são controversos; que outros irmãos que são crentes fiéis à luz da Bíblia, encontram respaldo para suas doutrinas e idéias. Precisamos distinguir o que é primordial, o que é essencial à fé cristã e inegociável, daquilo que é secundário, de questões sobre as quais existem posições divergentes e amplamente aceitas no meio dos cristãos para não querermos queimar os outros no fogo do nosso preconceito e das nossas palavras em uma “inquisição sem fogueiras”.
Lembramos que a “verdade sem amor gera a intolerância, mas, o amor sem a verdade gera a insegurança”. Esses dois elementos precisam andar juntos e combinados na igreja: a verdade e o amor.
Rev. Kleber Nobre de Queiroz